terça-feira, 19 de maio de 2015

Dormência

Dormente é aquele que vacila e nem sente
A dor do outro
Pelo descaso da ausência

Dormência
Coisa mais triste
Inércia de sentimento preciso
Irreverência de olho pedrado
Falta de coração aflito

Essa é a dormência do mundo
Gente de sorriso largo
Falta de amor profundo
Muito favor prestado
Cheio de interesse ao fundo

CA

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Falta

Ficou teu cheiro no travesseiro
O vazio do teu abraço não dado
Tua despedida sem beijo
Ficou a angústia do medo

Teu lugar na cama
Lembra o peso do teu corpo ausente
A parede fica mais fria, o juízo agonia
O silêncio se faz presente
Ao invés de você

Tem dia que a gente afoga
Que a raiva toma conta,
Tem dia que o sentimento desanda
Não sei como, por amor.
E a gente magoa sem querer
E se magoa pela dor de quem ama
Dor de culpa, remorso que emana

Desculpa.

Queria mais que teu cheiro no travesseiro
Teu abraço cheio, de amor
Teu beijo. Você.

segunda-feira, 30 de março de 2015

Um bem



Não houve um tempo 
Depois de te ver
Em que eu não quisesse você 

Sempre foi querer latente 
Aí tive que te dizer, não deu pra conter 
Sei que hoje você entende 

Mas foi difícil. 
Teve tempestade e calmaria 
Tristeza e euforia 
Separação e alegria 
Saudade e nostalgia 

Teve meu olho baixo 
Meu sorriso calado 
Meu choro engasgado 
Antes do sim 

Teve medo do não 
De qualquer reação 
Diante do turbilhão 
Que se fez dentro de mim - E que explodiu 

Eu sempre soube 
Que era você 
Que nunca foi fogo de palha 
E que era certo o meu querer 
Mesmo quando você negou 

Essa certeza eu tive desde que te vi passar 
De mochila nas costas, olhar distraído, indo trabalhar.


Carol
30.03.2015

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Aquele mal.





As lágrimas da chegada devem compensar a da partida. O abraço do reencontro deve enterrar o choro da saudade. O beijo da vinda, com certeza, é bem mais prazeroso que o da ida.

É difícil partir. É difícil deixar que o outro vá. Viver de saudade é mergulhar numa dor abstrata. Não tem remédio, não tem festa, não tem palavra ou consolo que dê jeito. O jeito é o ‘outro’. Algumas pessoas têm uma importância absurda na vida das outras. As vezes, nem percebem o papel que exercem, não vêem o quão essenciais são - aí a saudade esclarece o papel de cada um.

As saudade tem seus prós e contras. Estampa o branco do amor no preto da solidão, cruel. Ou vice-versa. Mostra quem é imprescindível e que verdades eram mesmo verdades - dessas que o tempo não mancha. Por outro lado, corrói, sem dó nem piedade, aquele amor pautado na cumplicidade do cotidiano. Maltrata mesmo, faz ferida.

Mais difícil do que escrever sobre saudade, logicamente, é senti-la. As vezes ela chega involuntariamente. Faz-se por necessidade dos “acasos” da vida. As vezes é causada sem ter nem porquê. É complicado. É inerente à quem sente. É doída e sofrida, mas depois de sentida, prova o que vale a pena e o que é descartável.

E quando vale a pena… As lágrimas da chegada compensam a da partida. O abraço do reencontro enterra o choro da saudade. O beijo da vinda é mais longo. E a vida… Ganha vida de novo.


Carol.
04.12.2014

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Sobre quem vai e o que fica - ou o que deixa



A angústia da melancolia, da saudade e de constatar a ausência é dolorosa. É faca fincada no peito, mas que não mata no ato, agoniza antes do ar faltar por inteiro. Melhor seria não senti-la, melhor seria se esse turbilhão de sentimento bombardeasse o coração e ele se rendesse de uma vez à realidade, sem a frescura de corroer-se antecipadamente ou pela distância. Melhor seria se não houvesse distância, na verdade, e todo e qualquer lugar estivesse ao nosso alcance.

Melhor seria se as pessoas não tivessem que ir embora.

Deixando um pouco de lado a visão egoísta da situação, deve ser mesmo muito difícil, também, pra quem vai. Ir embora é, como me disseram uma vez, “ser espectador da sua própria vida”. Ver aquele todo construído de longe, junto com família, amigos, cônjuges… É. Deve ser complicado ver isso de fora. Entretanto, novos ares cegam, quase que por inteiro, as saudades, “a visão de fora” e a distância das separações.

Pra quem fica a dor maltrata mais. Quem fica vê quem foi em tudo que é canto, em todo objeto, em qualquer situação. Quem fica sente o cheiro de quem foi no ar. Quem fica imagina o outro ali, novamente, consigo, vivendo e revivendo o que já foi caminhado até a partida diante dos olhos. Quem fica sente o fardo pesado da ausência, quem vai, o da liberdade. Pra quem fica o olho jorra mais facilmente.

Quem vai, deixa uma marca tatuada na história alheia. Quem vai, faz parecer, pra quem fica, que o tempo triplica, quadruplica sua duração… E quando o amor é grande, a intensidade da dor é exponencialmente maior.

Quem fica continua vivendo a monotonia de sempre.
Quem fica vê os dias passarem mais lentos.
Quem fica vê o mundo mais triste. E embaçado, por causa da lágrima no olho.
Quem fica sofre bem mais, eu garanto.

Garanto porque já sinto a faca dilacerar e o ar faltar, sem poder fazer nada. E pior: sabendo que, no final das contas, pra quem vai, é melhor que vá.


Carol
20/10/2014

Acho que viver é isso


Se pararmos pra pensar um pouco, é meio interessante ver como as pessoas julgam o que merecemos ou não. É no mínimo curioso você ter que passar no teste de alguém e um tanto assustador constatar como as pessoas decidem se merecemos ou não um bem material, um carinho, um abraço, atenção ou qualquer outra coisa que pode ser “dada”.

De repente, dá pra ver que é tudo baseado numa troca (estranha) - enquanto deveria ser por livre e espontânea vontade (isso, na verdade, é um eufemismo para orgulho). E, aliás, tem muito do comportamento social envolvido, do tipo “o que as pessoas vão pensar de você (?)”. Muito provavelmente vão te achar idiota se sua namorada deu qualquer vacilo com você e, porque você gosta dela, a perdoou tranquilamente (principalmente em casos de traições e vexames tais). Isso é socialmente feio: perdoar. Apesar do seu querer, “é importante pensar em como você seria visto numa situação dessas”. Como diriam os americanos: bullshit.

A sensação constante do teste te encaminha direto à “reprovação”. É difícil agradar sempre e tentar também. Casca de ovo sempre quebra, seja por acidente ou propositalmente. É difícil andar nos trilhos de outrem, porque eles podem não ser exatamente os seus - ainda que ambos dêem no mesmo lugar.

Assim como a certeza da morte, a de que os erros são infinitos é igualmente certa. Todo mundo erra por um motivo ou outro, num ponto ou noutro. É a lei da vida. Cabe a nós, apenas, tentar diminui-los e ir em busca do acerto - mas com a consciência de que o erro ronda, apesar de nem sempre o procuramos cientemente.

Acho que viver é isso.


Carol
20/10/20

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Sobre a saudade.


De repente parece que todo e qualquer resquício de juízo é corroído. De repente parece que a vontade de sorrir passa e o tédio chega tomando conta de absolutamente tudo ao redor. É um sentimento ruim, uma dor chata que vai direto no peito e lá faz residência. Assim como dói a saudade, talvez, doa ainda mais, a presença distante, por qualquer que seja o motivo. Saudade é coisa que se sente ainda que perto, é um estado de espírito. Tem gente com oceanos entre si que se sente próximo. Tem gente que sem espaço algum entre os corpos sente o peso da ausência. As vezes é só a carcaça ocupando espaço, carne densa no lugar da alma. As vezes são só olhos, sem olhar algum que faça acalmar e aninhar alguém. Nesses casos a boca não fala, os dentes não se mostram naquela curva bonita que chamam de sorriso. Toque não há. É tudo vazio. Saudade é coisa que amortece. É perna quebrada, coração arranhado e olho com lágrima.